
Quando chove em Belém, só as valas e os canais trabalham.
Quem pensava que trocando um prefeito de direita por um prefeito de esquerda iria acabar com os alagamentos da cidade de Belém, mas um vez se enganou redondamente.
Os alagamentos, as chuvas e as marés fazem parte do cenário natural de nossa cidade e da intervenção irresponsável de seres humanos. Os eventos naturais sempre vão estar presente em nossas vidas, não importando a vontade dos marqueteiros e de seus candidatos. As irresponsabilidades humanas podem ter um novo rumo.
Duciomar Costa se elegeu acusando o prefeito Edmilson Rodrigues de não fazer a manutenção dos canais. Zenaldo Coutinho usou dos mesmos argumentos com os quais seu candidato perdeu para um novo mandato do prefeito do PSOL.
Nas primeiras chuvas da atual gestão a cidade resistiu e quase não houve alagamentos. Conforme os eventos naturais foram se sucedendo, aos alagamentos voltaram e a voz oficial disse que a Cidade estava alagando, mas que agora, na nova gestão, depois de limpezas de esquerda, revolucionarias e cabanas feitas nos canais e nas valas, as águas escorriam mais rápido. Não foi o que aconteceu no último temporal que caiu sobre a nossa Belém.
Estamos vivendo mudanças climáticas e eventos extremos. Cidades com pouca altura do nível do mar vão ser muito impactadas. Afetando principalmente as pessoas de menor poder aquisitivo. Belém viu e verá que suas ruas e casas serão cada vez mais invadidas pelas águas.
A Cidade foi construída em um área baixa. Cortada por inúmeros canais naturais e igarapés. Na linha do Equador. Localizada na maior bacia hidrográfica do Planeta. Com uma imensa e diversa floresta que vem sendo desmatada criminosamente. Nada disso foi levado em consideração pelos seus habitantes.
Os impactos das mudanças climáticas vão se tornando emergências climáticas, por pura irresponsabilidade humana.
Mesmo sendo localizada num espaço ambientalmente sensível, Belém nunca respeitou a natureza, ao contrário, seus engenheiros, construtores e políticos tentam mudar o destino natural, interrompendo o caminho das águas, desviando o fluxo, impedindo a drenagem, impermeabilizando o solo, retirando as florestas, construindo onde nunca podiam ter construído.
Hoje, o morador jogar lixo nas valas e canais é apenas consequência de toda sorte de abusos feitos há décadas.
As nossas universidades já serviram de bussola, indicando, a partir dos estudos, da ciência, planejamento urbano preventivo e barrando o desejo de especuladores e empreiteiros de construir e destruir a qualquer custo. Infelizmente, hoje estão caladas e coniventes.
Os alertas climáticos estão ai para quem quiser ver e levar a sério. A natureza não vai parar só porque o prefeito é cabano.
Edmilson Rodrigues é arquiteto e foi membro da comissão de meio ambiente da Câmara dos Deputados, por tanto, sabe do que eu estou falando, sabe que precisa criar uma Secretaria Municipal de combate as mudanças climáticas, transversal, responsável por políticas públicas para emergências climáticas. Esta secretaria deve ser ouvida em tudo que for planejamento urbano, código de postura, lei de construções e campanha Lixo Zero.
Para não se especular com a proposta, não estou interessado em cargo público municipal, minha responsabilidade é buscar políticas públicas para que Belém enfrente com o menor impacto possível as mudanças climáticas, caso contrário, só as valas trabalharão para carregar entulhos, lixos e vencer as barreiras construídas irregularmente.