Dia da Amazônia: o que você pode fazer pela floresta?

Eu nasci na Amazônia, na cidade de Belém do Pará.

De criança que testemunho a destruição deste bioma e me entristeço. Acho que faço muito pouco pro tamanho da minha responsabilidade como ambientalista. Quero fazer muito mais, mesmo sendo pequeno.

Os igarapés da minha infância, corpos d’água que faziam parte da bacia hidrográfica tão necessária ao regime de chuva, sumiram. Alguns ainda estão por aqui, não com suas águas límpidas, geladas e cheias de peixes, são esgotos a céu aberto.

No Ver-o-peso, na Praça do Pescador, nos finais de tarde, muitos moradores iam pescar, outros apenas apreciar os botos brincando e encantando, isso, infelizmente, ficou no passado.

Este é o retrato de quase todas as cidades grandes e médias da região.

A mata, os bichos, os ribeirinhos, as aldeias e os índios, estão sendo atacados.

Derrubam a árvore para vender, não importa se dela dependiam macacos, preguiças ou pássaros. O dinheiro de venda da madeira financia o luxo de poucos. Depois de arracaram as madeiras nobres, tocam fogo e aquilo que antes era verde, vira cinza. O passo seguinte é cerca tudo, espalhar sementes de capim e colocar o boi que será vendido a preço de dólar e lucro apropriado por quem antes nem estava aqui, não tinha ancestralidade.

Lá no fundo da floresta, dentro dos rios e igarapés, as dragas escavacam o leito, sugam os cascalhos, peneiram, metem mercúrio, em busca do ouro. A loca do peixe, onde estão os filhotes, as fêmeas, vira um remexido de lama e veneno. Tudo morre. Por onde garimpo passa, fica a destruição.

Os que viviam coletando sementes, plantando roçado, colhendo frutas, começam a passar fome e vão embora, morar na periferia de uma cidade em busca de emprego, muitos são vitimas do crime organizado e das drogas. Outros viram peões. Mulheres vão cozinhar nos garimpos ou morar nos cabarés. Muitos corpos ficam estendidos pelos caminhos da desgraça.

Os que se dizem donos das terras e dos garimpos, naquilo que antes eram terras públicas, terras das comunidades, unidade de conservação, território indígena, nem moram lá. Vivem nos edifícios. Seus filhos dirigem carrões, estudam em colégios particulares, já foram a Disney, usam tênis da moda, tem Iphone 12 plus com três câmeras de última geração e brincam de influenciadores digitais, fazendo sucesso nas redes sociais.

Os telejornais anunciam que a Amazônia diminuiu tantos campos de futebol. O governo e os políticos dizem que os ambientalistas querem que a Amazônia vire um zoológico. Prometem que estão gerando emprego, mas todos sabemos que este modelo deles é para mais pobreza, mais desigualdade e perda de toda a biodiversidade criada pela natureza e preservada pelos povos originários.

A Sudam e o Basa, com dinheiro público financiam o fim da floresta amazônica e a corrupção. Os governos estaduais são oligarquias a serviço dos interesses desta destruição.

Os governos locais, ocupados por oligarcas, usam propagandas pagas com recursos públicos para esconder os crimes ambientais e as suas omissões em fazer cumprir a lei.

Os governantes de países estrangeiros que discursam nas conferências do clima e que assinam acordo pelas emergências climáticas não punem suas empresas quando estas compram madeira, soja, minério produzida ilegalmente na Amazônia. Um boicote dos consumidores destes países seria de grande ajuda para manter a Floresta preservada.

Se eu fosse Ministro do Meio Ambiente, convocaria todas as universidades, os institutos federais, as demais instituições de pesquisas e de produção de conhecimento que atuam na região para produzir um modelo de desenvolvimento que resolvesse o desafio de produzir e preservar.

Eu sei que é possível. Sem a ganância e com apoio da ciência, tenho certeza que conseguiríamos. Um modelo distributivistas. Inclusivo. Focado no desenvolvimento local sustentável. Apoiando as comunidades tradicionais. Aproveitando todo o potencial da floresta e das águas, para construir a felicidade coletiva. Dando receita para o país e bem-estar ao povo, cumprindo o desejo constitucional de garantir o futuro das próximas gerações.

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