
Estou preocupada com as mudanças no clima do planeta. Dizem que quando chegar em dos mil e trinta, ano que meu neto completará dezesseis anos, jovem e bom de trabalhar, tudo por aqui estará mudado. A chuva não será mais igual como era no tempo dos nossos avós. A floresta já estará derrubada. O rio doce será salgado. As ilhas desaparecerão. O vento soprará com muitos quilômetros de velocidade. O que será do meu netinho? Como ele vai se virar? O que será de mim? O que será de nós? Os donos do mundo estão reunidos longe daqui. Dizem que eles estão tomando providências para salvar o planeta do aquecimento. O presidente do Brasil não foi pra lá. Ficou com medo de pegar ovada na cara. Mandou representantes. Representantes não é a mesma coisa. Ainda mais com um Capitão cabeça dura e que nega tudo! O vice-presidente não quis ir. O presidente da Câmara dos Deputados também não foi. Sem o Brasil por lá, a coisa vai ficar difícil. Os da reunião pensam que sou eu, meu marido e os nossos vizinhos que estamos desmatando a floresta. Assisti falarem na televisão. Não, não somos nós não! Eles precisam saber disso. Aqui, a gente não derruba nem um pé de pau. Meu marido usa lenha e madeira das árvores que caem quando vento derruba. Quem desmata nem mora por aqui. Eles vêm de longe. Quem sabe eles não vêm deste mesmo lugar onde estão reunidos, preocupados com o desmatamento? Sei lá! Esse pessoal ganancioso, vem de todos os cantos, menos daqui das nossas bandas. Ah! tem uns que são daqui que até ajudam eles a derrubar, mas é pelo emprego que não tem e o jeito é trabalhar pra eles. Mas se desse, ninguém ajudava a derrubar a mata. As pessoas precisam comer e pagar as contas. Tomará que meu neto consiga emprego na cidade, longe dessa gente ruim que destrói a natureza. Aliás, que natureza? Acho até que nem vai ter mais floresta e bicho quando ele crescer. Tenho pena do meu vizinho que vive de coletar mel das abelhas. Me disseram que as bichinhas estão sumindo. Sem abelha não tem flor. Sem flor não tem frutos. Sem frutos, nem os passarinhos vão viver. Quem sabe se viesse pra cá essas empresa que dizem que respeitam o meio ambiente, que falam que são verdes. O negócio é que o governo não incentiva. Se o governo ajudasse pelo menos as pessoas que sabem mexer com a terra, com a floresta, com o mangue… Isso tudo tem muito valor. A floresta em pé é muito mais valiosa que o pasto pra boi. O boi pisa a terra e não deixa ela filtrar a água. As nascentes estão secando por causa disso. Será que eles não percebem? Aprendemos com os de antigamente como tirar o sustento sem destruir a natureza. Esse conhecimento é que deveria ser incentivado pelo governo. Com um pouquinho a gente faria muito. Os meus parentes sabem fazer farinha. Conhecem mandioca como ninguém. Remédio de planta, então… O negócio é que os políticos só gostam de quem promete e mente, e nosso pessoal daqui não gosta de mentira e nem apoia safadeza, ai os políticos não querem saber deles. Também tem um tal de mercado que só compra dos grandes. O nosso produto não é valorizado. Lembro quando o açaí era só plantado pra o nosso comer, ninguém queria! Agora que inventaram de misturar o açaí com os produtos deles e chamaram energético, as empresas tomaram de conta e o tal de mercado é que diz o preço. Até a rasa mudou de nome. Agora é uma tal de baqueta. Nesses dias onde o Jornal ficará dando notícia da reunião deles, como chamam mesmo? isso, uma tal de COP26, é assim que chama a reunião deles. Não vou conseguir dormir direito. Só torcendo para virem boas noticiais de lá. Quando falavam do vírus que apareceu na China, meu vizinho disse que era pra gente não se preocupar que um bichinho tão miúdo desses nunca chegaria por aqui. Agora é a mesma coisa. O Planeta está ficando quente e vai esquentar muito mais, mas ninguém liga. Daqui a pouco, que Deus nos livre, os hospitais estarão cheios novamente, ai é que eu quero ver! O pior é que ninguém se salvará sozinha. Vai ter que se unir para enfrentar o que está por vir por aí. Deus nos defenda! Como diz o seu Neco, temos que fazer a nossa parte. Vamos fazer, não é gente?
A) Dona Zeca de Muaná