A República de Raimundo Carreiro, o gênio de Benedito Leite.

Indicado por Jair Bolsonaro e aprovado por unanimidade no Senado federal, Raimundo Carreiro Silva, o ilustre beneleitense, ministro do TCU aposentado, torna-se Embaixador do Brasil em Portugal.

Você deve estar estranhando esta minha postagem e o interesse pelo maranhense, da pequena cidade de Benedito Leite, desmembrada do município de Nova Iorque, Raimundo Carreiro. Mas espera ai que vou te contar. Guarde a tua curiosidade para daqui a pouquinho.

Tudo começou com uma fraude eleitoral.

Era o ano de 1964, eleição difícil, a UDN precisando de eleitores para conquistar as cadeiras e o poder. Os cabos eleitores percorrem as vilas e os municípios em busca de eleitores. Encontram o jovem Carreiro, como muitos de sua região, com 16 anos de idade, sem ainda possuir registro civil de nascimento.

Carreiro foi registrado, teve sua idade aumentada em dois anos e recebeu, junto com o registro de nascimento, o titulo de eleitor e a obrigação de votar no padrinho José Ribamar Ferreira de Araújo Costa.

Quem é José Ribamar Ferreira de Araújo Costa? Ora, tu não sabes? Não acredito nisso!

Espera sentado que vou te contar logo, logo.

“Carreiro fez o curso primário no Grupo Escolar Monsenhor Barros, em São Raimundo das Mangabeiras, e estudou no Ginásio Balsense, em Balsas, até mudar-se para Brasília, onde concluiu o ensino fundamental no Ginásio Noturno do Setor Leste. Matriculou-se no Colégio da Caseb e concluiu o ensino médio no Colégio Elefante Branco.”

“Em dezembro de 1968, logo após a edição do Ato Institucional n° 5 (AI-5), iniciou sua carreira de 38 anos no Senado Federal, na função de expedidor da gráfica, responsável por organizar e entregar livros, revistas e jornais nos gabinetes e residências dos senadores.”

“No final dos anos 1980 procurou conciliar suas atividades de técnico do Senado com as de vereador, eleito na legenda do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e presidente da Câmara Municipal de São Raimundo das Mangabeiras, distante 1.700 quilômetros da capital federal. Nessa mesma época, após tentativa fracassada de se eleger vice-prefeito, decidiu não mais se filiar a partidos políticos.”

O nosso personagem, após a tentativa frustrada de chegar ao cargo do Executivo Municipal, decidiu subir aos píncaros da glória no Senador Federal. “Foi promovido sucessivamente a assistente legislativo, técnico em legislação e orçamento e analista na área de orçamentos públicos. Graduou-se na Faculdade de Direito do Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub) em 1981, e inscreveu-se na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em abril de 1982.”

A carreira de Carreiro (gostou dessa tirada?) seguiu subindo, como registra a CPDOC da FGV, de onde me socorri para trazer as informações “Após 15 anos no Setor de Atas, foi nomeado assessor da secretaria geral da Mesa, em seguida, secretário-geral adjunto, e, finalmente, em fevereiro de 1995, secretário-geral da Mesa do Senado, pelo então presidente da Casa, José Sarney. Em abril de 1999, representando o Senado, foi eleito por um ano a vice-presidente do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O site oficial do Senado, em 18/10/1999, informava que toda a burocracia legislativa da Casa está nas mãos do secretário-geral da Mesa, Raimundo Carreiro.”

Estou devendo a você duas explicações. O porque do meu interesse por Raimundo Carreiro e quem é o padrinho José Ribamar Ferreira de Araújo Costa.

Pois você já vai saber.

Além do Senado Federal e do mandato de vereador, Raimundo Carreiro também exerceu função importante na Anatel, a Infraero e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Quer saber mais, inclusive as acusações que pesam contra ele? Acesse: FGV/CPDOC.

O meu interesse por Carreiro se deu quando ele foi indicado e eleito para o importantíssimo cargo de ministro do Tribunal de Contas da União.

Vi ali uma carreira mágica, um verdadeiro milagre. Ai me veio a pergunta que quase funde meus miolos: como um jovem, que aos dezesseis anos nem registro civil tinha, sai do pequenino e longínquo município maranhense de Benedito Leite, hoje com pouco mais 5 mil almas, chega em Brasília e constrói uma carreira sólida, conquistando o topo de tudo?

Tem coisa ai, pensei!

Raimundo Carreiro, depois de chegar a Ministro do TCU, queria ser presidente da Corte de Contas, mas estava prestes a se aposentar aos 70 anos e isso o impediria de sentar naquele cobiçado lugar.

Foi então que Carreiro lembrou-se do fato que marcou sua vida. Seu registro de nascimento havia sido alterado, lembram?

Na verdade tinham dois anos a mais. Lhe acrescentaram estes dois maravilhosos anos para que pudesse ganhar o título se eleitor e votar no padrinho político, o senhor José Ribamar Ferreira de Araújo Costa. Carreiro foi a Justiça e retirou os dois ano. Se livrou deles sem muito esforço, como sempre aconteceu em suas doces conquistas.

Pois agora eu vou lhe dizer quem é este senhor.

José Sarney ou José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, estava por trás de toda a carreira do jovem maranhense.

Depois que Sarney lhe abriu as portas do sucesso também tornou-se homem de confiança de outros grandes ícones da República, dentre eles Antônio Carlos Magalhães. Mas não parou apenas nesses dois. A nomeação de Carreiro ao TCU foi assinada por Luís Inácio Lula da Silva.

Pois bem. Carreiro, esse nosso gênio maranhense, alterou seu registro de nascimento, perdeu os dois anos e foi eleito presidente do TCU.

Aposentou-se no cargo e quando todos pensavam em vê-lo com um belo pijama listrado, passeando pela Esplanada dos Ministros, as margens do Lagoa Paranoá, nosso mito, recebeu um afago de outro mito e pelas mãos de Jair Messias Bolsonaro, terminará seus dias de gloria nas terras do colonizador português, aquele mesmo que derrotou os franceses e se apossou do Maranhão e da Amazônia toda.

Raimundo Carreiro agora é nosso Embaixador do Brasil em Portugal.

Eu, que já havia esquecido dele, me vejo aqui respondendo a vocês, que curiosos, querem saber porque do meu interesse por este personagem.

A carreira desse homem público é uma carreira curiosa, que só uma República desorganizada e sem freios e contrapesos permite que isso aconteça.

Carreiro, justiça se lhe faça, quis mudar a república, era monarquista: ” Nos meses que antecederam o plebiscito de 1993, que definiria a forma e o sistema de governo do país, participou da campanha pelo parlamentarismo monárquico, declarando que “a República foi um estrago muito grande para o país. O país seria outro se tivéssemos continuado com a monarquia”.

O país seria outro, caro Raimundo Carreiro. Mas a nossa República continua dando mau exemplo para os mais jovens e talvez por isso que sua história me atrai.

Você tinha razão, caro Carreiro. E agora, lá de Portugal, morando ao lado dos prédios monarquistas e pombalinos, podes fazer alguma coisa pelos muitos jovens que não tiveram a sorte e malicia que tu tivesses?

Para encerrar e sem poder explicar tudo isso a luz dos tratados de Rousseau, me veio a lembrança do personagem Chicó, do Alto da Compadecida: “Só sei que foi assim”.

7 comentários em “A República de Raimundo Carreiro, o gênio de Benedito Leite.

  1. Parabéns pelo excelente texto, bastante criativo, bem humorado, chama a atenção do leitor ao fazer algumas “provocações” iniciais e desperta a curiosidade onde o leitor sente o desejo de ler até o final. Quanto a nossa república ser desorganizada entendo que todos os brasileiros e brasileiras historicamente são corresponsáveis. Portanto, cabe a cada um de nós contribuir para que esse cenário paulatinamente seja mudado.
    Atenciosamente
    Samuel Paumgartten

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  2. Excelente texto sobre perniciosa pessoa. Ressalto a questão do pijama. É incrível a sede de poder dessas pessoas. Se viverem 100 anos, 100 anos ficarão no poder. Não desapegam, queimam a vela até o pavio. Mudar a República, presidencialista, para uma Monarquia, é dose, só mostra o atraso e os interesses dessas pessoas que só olham o próprio umbigo e o de seus amigos.

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