
O Flamengo enfrentava o Palmeiras pela Taça Libertadores das Américas. O jogo era em Montevideo, no Uruguai.
Em Belém, os bares estavam lotados. A torcida rubro negra era a mais numerosa, dava para notar diferença nas mesas repletas de cervejas, tira-gostos e gente animada.
As televisões, com imagens transmitidas pelo SBT, que nessa altura já marcava o dobro de audiência da poderosa Rede Globo, anunciavam o inicio da partida, com os narradores dando a escalação dos times, trio de arbitragem e a movimentação dos técnicos.
Os flamenguistas contavam com a vitória. Os palmeirenses bem cautelosos confiavam no “verdão”.
A animação era total.
Apita o juiz, começa a partida, a concentração e o nervosismos dava para sentir no ar.
O Palmeiras abriu o placar, e logo nos primeiros minutos.
O time do Flamengo, surpreendido pelo adversário, partiu para o ataque, queria empatar para seguir com chances de vitória.
Num lance que parecia que ia resultar em gol, o jogador do Rubro Negro perdeu a bola e se jogou, fazendo cera, amolecendo o corpo, simulando uma penalidade, que não houve.
A torcida, nervosa, fico brava, viu ali uma oportunidade desperdiçada e não gostou da catimba, e não deixou por menos, reagiu, encheu os pulmões e soltou um grito uníssono, que reverberou pelo ambiente tenso:
-Viiiaaadooo!
O xingamento invadiu meu cérebro. Esperei alguma reação do público. Nada. Ninguém se sentiu ofendido.
O jogador, por certo, não ouvi o grito de reprovação ou será que lá no estádio também gritaram o mesmo viado?
Esperei algum comentário na televisão, silêncio sobre o assunto.
O jogo continuou e eu fiquei, só comigo, analisando se aquele grito foi uma reação homofóbica, uma mera hostilidade verbal ou uma reação normal de torcedor.
Ainda temos muito que aprender com os novos tempos.