
No Pará, o incrível acontece. Um renomado chefe de uma grande cozinha de Belém, confessou-me que compra o filhote e outros peixes que consome, fora do Pará.
De primeira, duvidei da informação. Mas ele, que usa toneladas de proteínas nos pratos que serve, confirmou esse incrível absurdo.
O Brachyplathystoma filamentosum, popularmente conhecido como “Filhote”, quando jovem e “Piraíba” quando adulto, pesando mais de 60 kg, é um peixe típico da bacia Amazônica, sendo bastante encontrado na costa do Marajó e o Pará é seu maior produtor.
Continuei duvidando da história. Comprar Filhote em outro estado sendo o Pará o seu maior fornecedor? Como pode?
O Che então me explicou: disse que é melhor servido em qualidade e preço quando compra de fornecedores de outros estados. A compra na famosa Pedra do Peixe é muito trabalhosa, com preço mais alto e nem sempre de boa qualidade.
Isso tem uma razão, o governo do Pará, montando por quatro anos em um palanque eleitoral populista, não investe na melhoria da produção local, não tem dados sobre a economia da pesca, muito menos sabe qual é estoque pesqueiro local.
O Pará vive seu pior momento em termos de melhora no padrão economico e planejamento de futuro. Não adianta fazer congresso, falar em bioeconomia, participar da conferência do Clima, se na prática não se constrói e nem se aposta e mudanças em direção a uma economia solida, baseada na sustentabilidade e na distribuição de renda, valorizando os produtos e produtores locais.
O Orçamento Fiscal do Pará para 2022, com receita prevista de R$31,3 bilhões, reservou para investimentos em pesca, apenas R$ 19,3 milhões, menos de 1%. Uma brincadeira de mau gosto para um setor tão importante da nossa economia.

Sem investimento em uma política decente de pesca, o Pará continuará amargando histórias terríveis como essa contada, muito envergonhado, pelo renomado chefe de cozinha paraense.