NOS TEMPOS DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, NO BAIRRO DO GUAMÁ

Altar da Igreja de São Pedro e São Paulo, bairro do Guamá, Belém do Pará

Na minha infância, no Guamá, a gente brincava era muito.

No dia de São Pedro, na rua onde nós morávamos tinha disputa de fogueira.

Papai armava a nossa fogueira ao cair da tarde. Minha mãe fazia um grande pote de aluá. Pote virgem comprado lá em baixo, que era assim que chamavam o Ver-o-peso.

Você já tomou aluá alguma vez na sua vida? Eu já! Muitas vezes. Acho até que ainda sei a receita. Via a mamãe fazer.

Papai, que era taxista, antes de voltar pra casa e de armar a fogueira, passava ali em São Braz e comparava os estalinhos, os rojões, os pé-de-moleques, as estrelinhas.

Sabe ali onde tem o monumento do Barata? Pois era lá que se armava uma feirinha de vendas de fogos.

Uma vez, houve um incêndio monstruoso. Queimou tudo! Do lado da feira, na esquina da Governador José Malcher, no prolongamento da Avenida Ceará, tinha um posto de gasolina. Felizmente fogo não chegou nele. Foi um deus nos acuda! Era foguete estourando. Labareda subindo. Lá do Guamá deu pra ouvir o barulho. Uma infelicidade.

Acho que foi desde essa época que as festas juninas tomaram outro rumo em Belém.

Voltando a nossa fogueira.

A mamãe, para esse dia, já tinha o mingau pronto e um pedaço de carne seca, dessalgada, que era para assar nas brasas da nossa fogueira.

Papai e os vizinhos, todos amigos, conheciam como poucos, o sistema da chuva. Nossa casa ficava para as bandas do rio Guamá. Todo dia de São Pedro caí uma chuva. Nem todo os anos, mas sempre chove.

Era esperar a chuva passar, a noite esfriar com a chegada do vento que vinha lá do rio, acender a fogueira e ver qual era a maior da rua.

A nossa era purruda!

Madeira no quintal não faltava. Sempre estávamos trocando um esteio rolado por causas das águas do inverno.

Nossa casa era de enchimento e coberta com palha. Palha comprada no Porto do mesmo nome.

Quando a fogueira ia baixando e estabilizando as labaredas, mamãe e as vizinhas distribuíam as comilanças.

Papai e os outros pais tratavam de colocar os fogos nas mãos dos filhos. Cada um de acordo com a idade. Só os mais velhos podiam soltar rojões.

No bairro, os rojões era apelidados de bombas. Cada uma de um tamanho.

Tinha umas potentes que eram acessas longe das casas, lá para esquina da Epitácio Pessoa. Mas todos ouviam o estampido. Alguns moleques, para aumentar o estouro, soltavam as bombas debaixo de latas.

A alegria e a algazarra eram grandes. Clima de felicidade.

Depois, quando as brasas já estavam feitas, era a hora de assar a carne e distribuir as comidas. Na calçada, cada um com seu prato, o papo rolava solto.

Contava-se muitas histórias.

Era hora de repassar aos mais jovens os ensinamentos, a ancestralidade, aquela transmissão de cultura, o legado das gerações que nos antecederam.

A palavra ancestralidade nem era conhecida naquela época.

Quando a fogueira ia se apagando era hora de dormir.

As redes atadas na sala, ainda tinha muita conversa, até que se ouvia o grito da mamãe vindo lá do quarto avisando que era hora de menino deitar, mas antes, precisávamos dizer que já havíamos feito o xixi que era para não molhar a rede.

Viva São Pedro e viva São Paulo!

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