Lourdes Barreto é puta. Ela se apresenta assim, sem esconder e sem ceder aos hipócritas. E como tal, fazia programa nos bordéis da Rua Riachuelo e nas demais ruas do Bairro da Campina, em Belém.
A região dos arredores do Teatro da Paz, era a área boêmia e cultural de Belém no período da borracha.
A elite que explorava madeira, borracha, pimenta e búfalo nas ilhas do Marajó, somada aos comerciantes de produtos importados da Europa que faziam a festa da área portuária, era a frequentadora do lugar de diversão, onde deixava uma pequena parte do lucro obtido nas atividades de exploração dos recurso florestais, receita que alimentava a prostituição no bairro da Campina, local onde ficavam os grandes e chiques bordéis da cidade.
A jornalista Angélica Santa Cruz traçou o perfil de Lourdes Barreto, contando a história dos impactos desse modelo econômico predatório, baseado no extrativismo, cenário que emoldura o retrato dessa mulher extraordinária.
A magnífica reportagem está nessa edição da Revista Piauí. https://piaui.folha.uol.com.br/edicao/199/
Os bordéis foram perdendo clientes afortunados, conforme o modelo econômico ganhava novos contornos. A Belém – Brasília fez o Pará receber um grande fluxo migratória e um novo ciclo econômico começou a surgir.
O Porto perdeu sua primazia para os produtos que vinha pelas rodas dos caminhões colados no rodoviarismo.
A zona em Belém foi higienizada pelo Governo Militar comandado por Alacid Nunes. As mulheres foram presas e perseguidas. Os bordéis fechados.
A prostituição glamorosa de então perdeu para rudeza das corruptelas surgidas as margens da Rodovia Transamazônica.
Os clientes agora eram “homens sem terras, para terras sem homens”, formados por caminheiros, madeireiros, peões de fazenda, atraídos pela ordem de “integrar para não entregar”.
A história se repete e a Lourdes Barreto agora chama-se Iracema, do filme de Iracema e a Transa Amazônica, dos cineastas Orlando Sena e Jorge Bodanzky, com argumentos de Hermano Penna.
O Pará segue derrubando a floresta, exportando matéria-prima e deixando impactos ambientais, sociais e os bordéis e cabarés, chiques ou bregas.