Quando vi a multidão arriscando a vida para receber o auxílio emergencial, refleti sobre o número de inscritos e os critérios para acessar o valor de três parcelas de R$600,00.
A partir daí, fiz um paralelo com o voto. Pensado no inscrito e nos seus dependentes, temos quase 100 milhões no universo de pobres e miseráveis, com cerca de 35 milhões de eleitores.
Se essas pessoas arriscam a própria saúde e até a vida para garantir o mínimo, imaginei, o que fazem com seus votos, uma moeda que pode ser trocada por uma vantagem rápida, que alivia um pouco os apertos da vida?
Os mais pobres escolhem o candidato em quem votarão com muita carência material e pouquíssimas informações seguras sobre o passado do escolhido e sobre o processo eleitoral. Dois fatores poderosos que derrubam a qualidade da nossa democracia.
Enquanto houver pobreza e desigualdade, sinto dizer, não haverá cidadania e voto consciente.
A pessoa que entrar para um partido político e se dispuser a disputar um cargo eletivo deverá se comprometer em mudar essa realidade se realmente estiver interessado na construção de uma sociedade justa, socialmente equilibrada e ambiental sustentável.
Caso contrário, será mais um neste faz de conta, onde a escolha não é livre e nem manifestado pela autonomia de vontade.
Democracia é sinônimo de assembléia de cidadãos conscientes, que exercem a liberdade plena de suas escolhas tendo garantido o direito a vida com dignidade.
O Brasil nunca vai ser uma democracia enquanto estiver um número tão grande de nacionais na fila dos programas sociais indispensáveis à sobrevivência.